Afinal como foi o Natal da avó Carolina, perguntam alguns?aqui
A avó, dona da sua cabeça, decidiu ela própria ficar no lar. Não queria correr riscos desnecessários, ela que já tinha sido infetada com covid, logo no princípio da coisa e tinha estado hospitalizada mais de uma vez, sabia bem o que temia.
Recebeu uns dias antes, a visita dos netos, todos testados negativamente e ficou muito contente com as fotos de telemóvel que estes lhes mostraram das suas atividades e dos membros mais novos da família, alguns que chegaram entretanto e que ela ainda nem conhecia.
No dia de Natal houve uma chamada coletiva para a avó. Contudo, nada de imagens, porque a tecnologia da avó não o permite, mas fizeram-se fotos de grupo que serão impressas e lhe irão chegar, em breve.
E assim se passou mais um Natal em pandemia. E como será o próximo?
Imagino que haja sempre exageros quando se vivem tempos de sobressalto pandémico. Coisas que mais tarde saberemos ser inúteis ou contraproducentes.
Mas os cuidados ou precauções ainda existentes nos lares de idosos, bem mereciam um novo aconselhamento das autoridades de saúde.
Felizmente os idosos já foram vacinados, e os seus cuidadadores também. Um dos idosos adoece, entra em descompensação, no caso, por diabetes e tem de ser internado em meio hospitalar. Melhora, tem alta, regressa à instituição e é colocado em quarentena, ou seja, no temível isolamento no seu quarto, sem poder conviver com os outros ou deslocar-se até ao jardim.
Dizem que são regras. Pois, são é um exagero. Que precisa urgentemente de ser alterado.
Fecharam as escolas, as crianças ficaram em casa e as famílias tiveram que se virar com os pais em teletrabalho, mais ainda com a provisão e preparação de refeições e os devidos cuidados infantis.
Resumindo, muitos netos passaram a estar mais tempo com os avós.
Assim, aconteceu com o nosso benjamim. São agora seguidas muitas regras, chegar a casa, tirar os sapatos, lavar e desinfetar as mãos, guardar a máscara etc...
Tenho o hábito de pendurar as chaves de casa na parte de dentro da porta, perto da máscara facial, não vá alguém tocar à campainha e eu ter de interagir com rapidez.
Num destes dias, tocaram da rua e tive de descer prontamente, chaves na mão, mas por esquecimento, sem máscara.
Logo o benjamim, ma apontou, para eu a colocar.
As crianças são mesmo umas esponjas, absorvem tudo, à sua volta. Mas o que irá ser destas gerações, esmagadas desde que nasceram com tais cuidados e proteções?
Espantados ficaram muitos portugueses com a entrevista do Ministro de Estado e da Economia, Siza Vieira, ao jornal americano New York Times, quando refere que o aumento dos casos de covid em Portugal se ficou a dever aos encontros natalícios e de fim de ano dos portugueses.
A culpa é dos portugueses que gostam de ficar infetados. Só pode ser.
E o governo não assume nada, quando fez uma meia quarentena a brincar? E o próprio ministro que apareceu contagiado em meados de janeiro, provavelmente também terá andado em convívios festivos, não? Dizem que foi por contágio do ministro das Finanças, mas como saber.
Como pode um ministro português, no meio de uma crise pandémica terrível, lembrar-se de dar uma entrevista a um jornal estrangeiro a dizer mal do seu país.
É mesmo de ficar espantado com esta falta de vergonha.
As vacinas contra o temível covid 19 são ainda escassas. Compreende-se que a sua distribuição obedeça a critérios rigorosos. Primeiro os médicos e o pessoal de saúde. Compreende-se.
Mas aqui começam as disparidades. Se nos hospitais públicos a maioria do pessoal de saúde já concluiu a sua vacinação ou está em vias disso, nos hospitais fora do SNS este objetivo está ainda longe e não sei mesmo, se já foi iniciado.
Contudo os hospitais privados já estão a receber e a tratar doentes com covid.
Serão os médicos e o pessoal de saúde destes hospitais menos importantes, menos vulneráveis ou mais saudáveis?
Há muita coisa nesta pandemia que não se compreende.
Apanhados no turbilhão desta pandemia, ainda longe do seu fim, lições de resiliência são muito bem vindas.
Foi o que me surgiu com o exemplo de vida da procuradora Maria José Morgado, com quem tenho tido o privilégio de privar ao longo de décadas. Dona de uma carreira com mais de 40 anos no Ministério Público, retira-se no final deste ano das suas funções. Lúcida e assertiva reconhece a pandemia de corrupção que grassa no nosso país como um inimigo sem rosto, um dos maiores perigos das democracias, cujas vítimas somos todos nós e que urge continuar a combater intensamente.
Assim houvesse mais Marias, lutadoras e resilientes.
Estamos todos a atravessar um período negro, muito negro mesmo e sem fim à vista.
Vou agora falar da decisão do Ministério da Saúde, que este ano, determinou que a vacina da gripe seria ministrada pelos Centros de Saúde.
Ou seja, as farmácias deixaram de receber as quantidades que costumavam receber e os interessados foram aconselhados a marcar dia e hora no respetivo Centro.
Tudo isto poderia na verdade funcionar.
Mas não funcionou. Avisaram-me agora que a minha vacinação marcada há semanas, para a próxima segunda feira, foi desmarcada sem qualquer previsão de nova data.
Telefonei para a farmácia, continuam sem receber as vacinas e não sabem quando, ou se, as receberão.
E estamos nisto. As novidades implementadas num ano tão difícil produziram estes resultados. Fizeram as marcações sem saber se dispunham do medicamento e agora em cima da hora, descobriram que afinal já não há, nem ninguém sabe se tornará a haver.
São estas as boas decisões da Saúde. Mais um sapo que temos de engolir neste caos.
Às vezes sentimos passar por nós uma lufada de ar fresco, mesmo nos momentos mais escuros, como aquele em que nos encontramos, atordoados com a pandemia.
Ouvir um Papa dizer que os homossexuais também são filhos de Deus e que merecem o apoio das leis, no caso de constituírem família, é uma novidade inaudita para muitos.
Glória a Deus nas alturas, será caso para dizer.
Por outro lado, assistir a uma missa de sétimo dia, numa igreja do distrito de Lisboa com lugares separados e marcados, com álcool gel na entrada e na saída, mas com os fiéis aos molhos a atropelar-se ao avançar para a comunhão, parece coisa mesmo a querer chamar o covid. Não poderiam as igrejas combinar com os paroquianos, uma forma diferente de partilhar a comunhão? Cada um trazia uma hóstia ou um bocadinho de pão de casa, que era depois abençoada pelo padre, em conjunto, e depois seria ali consumida no momento certo.
Afinal a fé é que nos salva.
Mas pronto, já sei que vou ser considerada ímpia por muito boa gente.
Andar na rua ou nos transportes, sabendo-se ou suspeitando-se infetado com doença contagiosa, é pelo direito penal português, crime punido com prisão.
Que isto fique muito claro, que bem precisa de entrar nas nossas cabeças.
E que dizer de uma família de três pessoas, pai, mãe e filha menor, que sabendo-se contagiados com o novo coronavírus, mas sem sintomas, decidiram mesmo assim, embarcar no avião, de Luanda até Lisboa, rasgando as análises e fazendo de conta que com eles estava tudo bem?
E como deixam desembarcar nos nossos aeroportos, passageiros vindos de zonas com elevadas taxas de infeção, sem análises prévias de covid, sem análise na hora, ou sem quarentena?
O verão está dar as últimas e o ano escolar vai recomeçar esta semana, com aulas presenciais. Penso que alunos e professores tenham sentido a falta da presença física nas aulas e nas escolas.
Mas imagino como deve ser difícil aguentar a ansiedade deste regresso para as famílias, para os professores e auxiliares. E então para os alunos? Ainda pior com certeza. Para além do uso obrigatório de máscara, que só por si, dificulta o reconhecimento de expressões faciais, ainda temos de transmitir às crianças o conceito de distanciamento, e a proibição de tocar ou partilhar objetos. E também para os adolescentes, na idade dos desafios e dos namoricos, com a sua apetência para os habituais segredinhos e risadinhas entre grupos. E para todos ainda a preocupação do cumprimento das regras de higiene, da lavagem das mãos e da desinfeção regular.
E quanto à ausência ou limitação dos recreios, e da atividade física ou desportiva, que era o melhor momento do dia para muitos estudantes, pela libertação de tensões ?
Muitos sacrifícios são pedidos. Esperamos e desejamos que as coisas corram bem para toda a comunidade educativa, que vai ser posta à prova neste novo ano letivo.