Fui buscar o meu neto à creche e a educadora na troca de mensagens rápidas por entre as máscaras e com o devido distanciamento, anunciou orgulhosa, «Hoje na sala estivemos a fazer coisas de Natal». «O presépio?» perguntei. «Não, a árvore de Natal.»
Claro, pensei depois, o mais importante agora é a árvore e as bolas e as luzes. Quem é que perderá tempo a explicar a uma criança a simbologia de uma família, sem abrigo, alojada num curral, numa noite fria?
Em tempos, participei numa visita guiada à Igreja Paroquial da Ericeira, Igreja de São Pedro, com um belo interior com painéis alusivos à vida do Santo. Num desses painéis vê-se um galo, símbolo este da traição de S.Pedro. E o jovem guia, que tão bem tinha explicado as origens e a história do monumento, comenta a pintura, dizendo, «está aqui um galo, porque nesse tempo era uma refeição comum». Expliquei então o sentido da representação, relacionada com a negação do Santo, quando Cristo lhe disse antes da paixão, «Nesta noite antes que o gale cante, três vezes me negarás.» E assim aconteceu, segundo os Evangelhos. Interpelado três vezes, Pedro respondeu sempre que não conhecia Cristo. E após a sua ultima negação ouviu-se o cantar do galo. E Pedro chorou então as lágrimas tristes da sua traição.
É evidente que o guia nunca tinha ouvido esta história, bem como a maioria dos participantes da visita.
Nem esta história, cristã é certo, nem outras histórias, de outras origens ou não, porque as histórias dão trabalho a contar a ler e a descortinar.
Mais fácil é colocar as luzes num arremedo de pinheiro de plástico.
E assim se vai perdendo o conhecimento dos símbolos das nossas culturas.
Diz a velha canção de Natal, de que alguns se lembrarão, «O Menino está dormindo ao colo da Virgem Maria».
Atualmente quase não se ouvem canções de Natal em português. O que é uma pena, pois temos melodias tão bonitas, algumas muito esquecidas.
Agora é só «jingle bells» e pouco mais. Penso que deveríamos fazer um esforço, a começar pelas rádios, para repescar as tradicionais músicas desta época e que todos ganharíamos com isso. A diversidade é mais criativa que a uniformidade.
Mesmo assim, ainda bem que há um «youtube» para os mais saudosistas.
O convento dos Cardaes, na rua do Século, 123, perto do Príncipe Real, já inaugurou este ano a sua venda de Natal solidário. Funciona aos sábados e domingos. E para além de compotas, bolachas e iguarias várias, que pode levar para casa ou para oferecer, tem ainda como atrativo o brunch, por 17.50, e o chá, com bolo e scones, por 7.50 euros por pessoa.
A oportunidade pode servir também para visitar um belo edifício, anterior ao terramoto de 1755, com a capela da foto, revestida com magníficos azulejos e talha dourada, e ainda com a roda dos expostos ou enjeitados. Este convento tem, ao longo de séculos, servido de lar a gente necessitada.
Estará ademais a contribuir para a sustentabilidade de uma obra social, que acolhe e ajuda jovens e mulheres com deficiência.
Li esta noticia, com link infra, sobre a participação do município de Idanha-a-Nova no mercado de Natal de Estrasburgo, que é, ao que parece, o maior da Europa, e fiquei contente.
Os mercados de Natal são uma tradição na Europa fria, atraindo muitos visitantes, que por ali andam de barraquinha em barraquinha, ou pavilhão em pavilhão, a fazer compras natalícias e a comer e a beber.
Alegro-me quando os municípios portugueses fazem um esforço de divulgação das suas terras, dos seus costumes e das suas gentes. Tanto mais, sendo este um município do nosso interior e que não anda nas bocas do mundo à conta de festivais musicais ou da feiras da castanha ou do porco preto.
Sempre que é dada visibilidade à nossa cultura, está o País a ser promovido, e esperemos que a iniciativa tenha êxito e se repita.