Não é fácil acreditar na justiça portuguesa, que não se dá ao respeito.
Anda a SIC a entreter os espectadores com as gravações de uma investigação de suspeitas de subornos e outros crimes feios e maus, denunciadores de ligações escuras entre a alta política e a alta finança.
Triste e ainda mais triste, se pensarmos que têm sido sempre os mesmos, os cidadãos, a pagar estes e muitos outros desmandos da banca e da política.
Mas em vez de passarem gravações na televisão ou darem informações para os jornais, levem o caso a julgamento, que o assunto já enjoa. Isso sim, seria fundamental. Chamam a isto fugas de informação e afirmam abrir averiguações. Quem pretendem iludir?
Comecei recentemente a aprender língua e cultura italiana. E gosto muito do professor Frederico. Italiano de Nápoles, vive há anos em Portugal, trazido pelo amor de uma portuguesa, com quem casou.
Apesar de já ter alguma idade, tem uma memória fantástica para datas e factos históricos, que relata sempre com calma e humor.
No outro dia, a aula versou sobre as particularidades dos dois povos, o português e o italiano.
Veio à baila a Expo 98. Na altura, ele tinha chegado a Lisboa há pouco tempo e ficou abismado com a grandiosidade e a ambição do projeto e as dificuldades para a sua concretização. E conta, como ficou espantado, por ter sido possível que a coisa tivesse corrido bem, que a obra ficasse pronta a tempo e horas e fosse um sucesso. A imagem dos portugueses a salto, pela Europa fora, com a mala de cartão, desvaneceu-se de todo. Foi a prova dos nove.
A partir desse momento, ele e muitos outros, começaram a pensar na estranha gente que quando mete mãos à obra é capaz de tudo.
Vivemos numa época de imagem. Imagem que se quer bela. Quanto mais maquilhada ou embelezada, melhor, sabe-se lá como, não interessa.
É assim. Mas num país em que mais de metade da população tem excesso de peso, onde os hábitos de prática desportiva são baixos, alguma vez pensamos em proteger as nossas crianças, os nossos adolescentes, os tais que podem não ter o corpo ideal, que sofrem, por não serem aceites, por não terem as medidas certas, o cabelo brilhante e perfeito do anuncio?
Pois era muito bom que se debatesse abertamente a tirania da beleza. Que se mostrasse aos jovens, que antes de procurarmos ser belos, deveríamos procurar ser saudáveis de corpo e de mente. Que a indústria da moda é sobretudo uma ficção, que procura vender um ideal de perfeição, inatingível. Que todas as fotos, vídeos e filmes são retocados, melhorados, sendo apagadas as gorduras, sombreados alguns músculos, num esforço de alisa aqui e aumenta acolá.
Há que lutar pelo reforço da auto estima, isso sim.