Amores diversos
Tal como os chapéus há quem diga que amores há muitos. E de diversas formas e feitios. Conheci pais que pagaram a empregadores para «contratarem» os seus filhos, ou pelo menos fingirem, para ver se os jovens atinavam, ganhavam rotinas e aprendiam qualquer coisa, mas também conheço um filho que pagou do seu bolso, para a mãe sair de casa e do seu marasmo.
A senhora ficou viúva muito cedo com um filho único, criança ainda, para criar. Trabalhava muito, num escritório e ainda levava trabalho de contabilidade para completar em casa noite adentro. Insistiu com o filho para que ele estudasse e continuou a fazer sacrifícios para que nada lhes faltasse.
Com o tempo, o filho entretanto criado e formado, chegou a idade da reforma. E com a reforma o marasmo ou depressão. O filho depressa compreendeu a situação. A mãe tinha de continuar a «trabalhar».
Foi então que ele se lembrou de ir ao antigo emprego da mãe e engendrar um sistema de «part-time», em que a mãe tivesse de lá ir diariamente para atualizar um determinado ficheiro. Ele entregaria mensalmente um envelope que depois os recursos humanos fariam chegar à mãe, como se fosse o seu pagamento.
E assim foi e durante vários anos. A senhora saía de casa na Graça metia-se num elétrico e chegava a Belém, onde a esperava o tal ficheiro. À tarde era o inverso, porém só as deslocações e o estar com os antigos colegas num ambiente acolhedor, concediam-lhe horas de felicidade.
Claro que o ficheiro, numa altura já da introdução do computador não seria de grande utilidade, contudo, esta senhora preencheu assim os seus últimos anos, graças ao amor do seu filho.