Hoje acordei a cantarolar na minha cabeça, «Sebastião come tudo tudo tudo, Sebastião come tudo sem colher, Sebastião fica muito barrigudo e depois, e depois, bate na mulher...»
Como é possível que esta cantilena horrorosa me tenha vindo à mente, não sei...Também não recordo quem me ensinou isto. Tenho ideia que era uma canção popular e ainda me lembro de associar ao seu final, «Sebastião é um bruto barrigudo», o que já não era nada mau para a época.
Depois olhei à volta, e a realidade deu-me um chapadão, surgiu mais um, entre tantos «Sebastiões» conhecidos, o pai da inocente Valentina e fiquei sem vontade de acrescentar mais nada.
Ninguém pede para nascer. E para morrer, pode-se ou não pedir?
Este assunto encontra-se em discussão nas sociedades ocidentais. Viver, viver muitos anos, com saúde física e mental, devia ser o objetivo de todos nós. Mas por vezes, os avanços da medicina parece que conduzem ao prolongamento da vida para além do desejável.
A recente decisão de um cidadão australiano de 104 anos de idade, David Goodall, de se deslocar à Suíça para pedir a eutanásia, tendo expirado na quinta-feira passada, leva-nos a refletir. Depois de uma longa e preenchida vida dedicada ao estudo e investigação, as limitações da idade, a falta de vista e de mobilidade, sobretudo, conduziram-no a essa decisão.
Ainda tentou resolver o assunto, pelos seus meios, mas foi reanimado num hospital australiano, país que admite a eutanásia em situações de doenças terminais, o que não era o caso.
Nas suas últimas declarações, referiu, «a sociedade não deve obrigar ninguém a permanecer vivo, isso é crueldade.»