O desconfinamento
Perguntaram-lhe há poucos dias, como tinha vivido o seu confinamento, «lá se passou», disse, mas naquele momento, ela lembrou-se, sobretudo do seu desconfinamento.
Depois de semanas isolados em casa, a sair apenas para comprar víveres, ir à farmácia ou levar a cadela à rua, surge um dia em que um dos filhos propõe ao grupo familiar um encontro no grande parque lisboeta Eduardo VII.
E assim se fez. Cada casal sentado na relva, no seu canto, todos ainda suficientemente distanciados uns dos outros. Mas já se podiam ver e falar ao vivo. E mais importante, respirar a primavera. Porém, nada de proximidades.
Contudo, no meio da tarde, eis que o neto, petiz que parecia apenas interessado nas brincadeiras dos cães e dos patos no lago, se aproxima com uma minúscula flor na mão para lhe oferecer.
Ora, não podia ter havido melhor desconfinamento.