Coisas do antigamente (continuação)
Uns anos depois, havia já duas crianças nascidas dessa feliz união.
Um dia, estava a mãe de Amélia à janela da sua casa, a comer laranjas, quando vê passar na rua, um menino e uma menina acompanhados de uma criada, bonitos e bem arranjados, e pergunta então surpreendida, «Quem são estas crianças?»
Ao que a criada lhe terá respondido, «Não os conhece? são os seus netos, filhos da sua filha Amelia».
Furiosa, atirou as cascas das laranjas para cima dos passantes e vai de fechar a janela com força.
Esta história sempre me deixou perplexa com tamanha cegueira, tamanho preconceito. Como é possível viver ignorando a existência de uma filha, de um genro e dos próprios netos, que para mais, viviam todos na mesma aldeia? Como é possível, não perdoar, não aceitar, não seguir em frente, como se diz agora. Mesmo com as brumas dos primórdios do século passado trata-se de uma história de difícil compreensão. Que mal lhe tinham feito as crianças, que nunca quis conhecer? Veio a morrer sem nunca se ter reconciliado com Amélia, que ficou viúva cedo e teve que criar os filhos a maior parte da sua vida sózinha.
Amélia foi uma mulher livre que fez uma opção de vida estranha na época, escolheu casar por amor e viveu depois de acordo com essa sua escolha.