Coisas do antigamente
Nunca conheci nenhum dos meus quatro avós. O pouco que sei deles foi-me contado pelos meus pais, tias ou tios.
Há uma história contada pela minha mãe, sobre a mãe dela, a minha avó Amélia, de quem herdei o nome.
Ora recuemos, até às primeiras décadas do século passado.
Era a minha avó Amelia uma jovem casadoira, quando ao acompanhar os pais na missa de domingo numa pequena aldeia da Beira Baixa, distrito de Castelo Branco, ouviu surpresa o padre anunciar o seu casamento para breve e não com quem ela desejava.
Na altura penso ser esta a prática.
Amélia já tinha um «conversado», um jovem farmacêutico, recém chegado à aldeia.
Mas os pais e sobretudo a sua mãe, tinham escolhido para genro um outro, por o acharem mais conveniente do ponto de vista das «terras» que possuía ou que poderia vira a possuir, sendo que na época a agricultura era quase a única base do sustento daquelas familias.
Amélia bem implorou, em vão. O tempo passava e em desespero, os jovens tomaram uma decisão, que naquelas circunstâncias implicava o rapto de noiva, que contou com o apoio do seu pai, a fuga e o casamento apressado celebrado por um padre de uma aldeia vizinha.
Voltaram os recém casados a viver na mesma aldeia onde o marido montou uma farmácia e prosperou, sendo que a mãe de Amélia, inconformada, cortou por completo relações e dizia a toda a gente, «a minha filha morreu.».
(continua)