O assédio e a faculdade de direito de Lisboa
F
Discute-se por estes dias, situações de assédio e humilhação ocorridos na Faculdade de Direito de Lisboa. Porque por lá passei e por lá me licenciei, tendo experenciado a vida académica durante os últimos anos da ditadura, com a introdução dos vigilantes ou «gorilas», devo reconhecer que a Faculdade era nessa altura um local em que os estudantes ou melhor, sobretudo, «as» estudantes, grupo então minoritário, eram humilhadas, rebaixadas e desconsideradas.
Consistia numa tática conhecida e usada por alguns professores. As taxas de reprovação eram muito elevadas, sendo que só cerca de 10% dos alunos que entravam no primeiro ano conseguiam acabar o curso. Também as notas eram em Direito muito mais baixas do que noutros cursos. Lembro-me de um assistente ter dito a uma bonita caloira que a nota de 8 que lhe tinha atribuído na prova escrita demonstrava que ela era «muito boa.»
As provas orais quase sempre obrigatórias, afiguravam-se de tal modo aterradoras que num dia em que calhou ser examinada por um dos grandes catedráticos, quase todos os alunos convocados faltaram à primeira chamada, tendo sido apenas eu e um Abdul africano, os únicos a fazermos a dita oral e talvez por sermos apenas dois e atrevidos representantes de minorias, com sucesso.
Assim se vivia o ambiente de poder e de intimidação na época. Espantoso é que depois de tantos anos as coisas pouco tenham mudado.