Herança escondida
Quando nos chega às mãos um objeto antigo, que tenha conhecido outros donos e poisos, bastas vezes nos perguntamos a sua origem e a sua história.
Obra preciosa, de Edmund de Waal, «A lebre de olhos de âmbar», dá-nos conta disso. Descreve uma coleção. pertença dos seus antepassados, de 264 pequenas esculturas de madeira e marfim, não maiores do que uma caixa de fósforos, que saíram do Japão no século dezanove e desembarcaram em Paris, regressando depois da segunda guerra mundial ao Japão, até voltarem de novo à Europa, desta vez ao Reino Unido, onde vive o autor, que é agora o seu dono. A descrição do percurso das peças através de gerações, acompanha por isso, a história europeia e mundial, as suas mudanças e conflitos.
Este relato fez-me lembrar a história de um velho louceiro familiar, tão grande e tão pesado que tinha ficado esquecido no quarto interior da casa de uma avó. Há muitos anos, uma das filhas apoquentada com os altos e baixos da vida e depois de ter sido obrigada a vender os seus poucos pertences por causa das dívidas de jogo do seu marido, veio resgatá-lo. O móvel foi desmontado, limpo, encerado, as prateleiras foram forradas e encheu-se de coisas bonitas.
O velho louceiro ainda hoje pontifica numa sala e está pronto para novas aventuras.