Afinal como foi o Natal da avó Carolina, perguntam alguns?aqui
A avó, dona da sua cabeça, decidiu ela própria ficar no lar. Não queria correr riscos desnecessários, ela que já tinha sido infetada com covid, logo no princípio da coisa e tinha estado hospitalizada mais de uma vez, sabia bem o que temia.
Recebeu uns dias antes, a visita dos netos, todos testados negativamente e ficou muito contente com as fotos de telemóvel que estes lhes mostraram das suas atividades e dos membros mais novos da família, alguns que chegaram entretanto e que ela ainda nem conhecia.
No dia de Natal houve uma chamada coletiva para a avó. Contudo, nada de imagens, porque a tecnologia da avó não o permite, mas fizeram-se fotos de grupo que serão impressas e lhe irão chegar, em breve.
E assim se passou mais um Natal em pandemia. E como será o próximo?
Mais ao menos, por este altura do ano, e já lá vão muitos, as professoras de Trabalhos Manuais e de Moral do liceu que frequentava, resolveram dinamizar a troca de prendas natalícia, com o sorteio do amigo secreto.
Ficou assim combinado que as lembranças seriam feitas por cada aluna e seriam depois trocadas num determinado dia com a nossa amiga secreta.
Em breve começaram a perfilar-se nos armários as prendinhas de cada. Desde logo, me saltou à vista uma, para mim lindíssima estrela de Natal, feita com círculos de papel celofane vermelho enrolado em cornucópia, assente numa base de cartolina redonda e com uma bola vermelha no centro. Aquela estrela era sem dúvida o enfeite mais bonito que eu alguma vez vira.
No dia certo, chamaram-se as alunas uma a uma e fui eu que recebi maravilhada a referida estrela. Eu era a amiga secreta da sua autora, facto que desconhecia.
Guardei a estrela durante muitos anos. Foi compondo diferentes árvores e presépios, até que acabou por se desfazer por mais cola e fita cola que eu usasse.
Há muito que esqueci o presente que então ofereci, alguma insignificância sem jeito por certo, mas recordo até hoje com gratidão e encantamento aquele que recebi.
A avó Carolina já conta muitos anos. Em numero redondo podemos dizer que está dentro dos noventa e perto da centena. A avó está desde algum tempo a viver num lar para pessoas de idade, dada a sua fragilidade e as suas condições de saúde, ou de falta dela.
Vive conformada com isso. Tem a cabeça no lugar e reconhece que está mais acompanhada na instituição do que na sua própria casa.
Recebe visitas com muito agrado e tem feito amigas no lar.
Esta avó costumava passar a temporada de Natal rodeada dos filhos, netos, sobrinhos e demais família. Mas este ano, aliás como no ano passado, ainda ninguém sabe bem como vai ser.
Trazer a avó, talvez? E os perigos do contágio? E a eventual e detestada quarentena, fechada no seu quarto, depois do seu regresso?
Ir visitá-la ao lar? Mas a instituição pede de novo aos familiares para reduzirem as visitas?
E assim estamos num novo Natal, com muitos dos nossos anciãos ainda mais isolados, fechados e tristes.