A ida à praia de antigamente
Lembrei-me de uma cena da minha meninice, que talvez só os da minha geração entenderão. Durante alguns anos, ia com a minha irmã e a minha mãe para a praia de Carcavelos, durante a semana, nunca aos fins de semana, por, como se dizia, haver mais confusão. Íamos de carro, de boleia com uma tia minha, mais nova e mais avançada do que a minha mãe, que tinha carro e conduzia. Na altura, ela era mãe de dois rapazes, meus primos, mais velhos do que eu, e era nessa viatura que matinalmente viajávamos para a praia. Ou seja, duas adultas à frente e quatro crianças no banco de trás.
Não me lembro da marca do carro, era assim para o baixote e largo, um carro da época, mas cabíamos lá todos.
A minha tia veio ainda a ter mais uma menina, que também seguia na sua alcofa para Carcavelos.
Alugava-se uma barraca às riscas, e ainda me lembro da minha tia aí se recolher para dar de mamar à bebé.
Havia dias em que aparecia também uma outra tia minha, mais outros primos e respetiva prole.Era uma alegria.
Passava regularmente a senhora dos bolos, com bata branca e uma caixa de madeira à cabeça para o transporte da doçaria, mas os bolos eram racionados para as crianças, o que queria dizer que não os podíamos comer todos os dias, era só de vez em quando, talvez um dia por semana. De resto era pãozinho levado de casa, com algum conduto, água e fruta. Saudosa e abençoada regra esta. Mas também a praia era só de manhã, almoçava-se depois em casa, qualquer coisa que a minha mãe tinha pré preparada.
Agora o que acho espantoso, era como cabiam cinco crianças e duas mães, num veículo utilitário. Claro que não havia cintos de segurança, nem cadeiras para crianças, especiais e espaciais, digo eu, pelo espaço que ocupam.