Os símbolos idos
Fui buscar o meu neto à creche e a educadora na troca de mensagens rápidas por entre as máscaras e com o devido distanciamento, anunciou orgulhosa, «Hoje na sala estivemos a fazer coisas de Natal». «O presépio?» perguntei. «Não, a árvore de Natal.»
Claro, pensei depois, o mais importante agora é a árvore e as bolas e as luzes. Quem é que perderá tempo a explicar a uma criança a simbologia de uma família, sem abrigo, alojada num curral, numa noite fria?
Em tempos, participei numa visita guiada à Igreja Paroquial da Ericeira, Igreja de São Pedro, com um belo interior com painéis alusivos à vida do Santo. Num desses painéis vê-se um galo, símbolo este da traição de S.Pedro. E o jovem guia, que tão bem tinha explicado as origens e a história do monumento, comenta a pintura, dizendo, «está aqui um galo, porque nesse tempo era uma refeição comum». Expliquei então o sentido da representação, relacionada com a negação do Santo, quando Cristo lhe disse antes da paixão, «Nesta noite antes que o gale cante, três vezes me negarás.» E assim aconteceu, segundo os Evangelhos. Interpelado três vezes, Pedro respondeu sempre que não conhecia Cristo. E após a sua ultima negação ouviu-se o cantar do galo. E Pedro chorou então as lágrimas tristes da sua traição.
É evidente que o guia nunca tinha ouvido esta história, bem como a maioria dos participantes da visita.
Nem esta história, cristã é certo, nem outras histórias, de outras origens ou não, porque as histórias dão trabalho a contar a ler e a descortinar.
Mais fácil é colocar as luzes num arremedo de pinheiro de plástico.
E assim se vai perdendo o conhecimento dos símbolos das nossas culturas.