Passava no Chiado numa destas tardes, quando fui atraída por um espetáculo de rua, um mágico com os seus truques das moedas, que apareciam, desapareciam e tornavam a aparecer em diferentes sítios. A caneca vazia e depois a tilintar com as moedas, uma, duas, três. Enfim, muita gente à volta, nacionais e estrangeiros, famílias e crianças, todos a verem.
Jovem sueco, Rasmussen, segundo me pareceu ao apresentar-se, falava em inglês, ou em português rudimentar, e dizia ter atravessado quase toda a Europa com os seus espetáculos de rua. Na verdade, tinha jeito.
Fiquei muito admirada com o seu truque final. Pediu uma nota de 20 euros a um português da assistência. Essa nota foi rubricada pelo seu dono. A nota desaparece rapidamente e para onde? Brincadeiras, cubo de rubik feito de olhos vendados, risos e conversetas, sai uma faca de dentro de um pequeno saco, mais risos e conversetas, sai uma laranja de dentro do mesmo saco e a laranja é aberta ao meio com a dita faca. Bem enroladinhos e sujos de sumo estavam os ditos 20 euros, ou outros, poucos o saberão, garatujados pelo assistente.
Palmas para o Rasmussen, «amazing», dizia ele e digo eu também.
A jovem paquistanesa Malala Yousafzai foi em 2012, aos 15 anos, vítima de um atentado no autocarro escolar em que seguia, que a deixou às portas da morte, ferida com três tiros, tendo contudo, sido salva e tratada, mais tarde no Reino Unido, onde vive atualmante com a sua família.
Isto, porque ao contrário do que é tradicional no seu país, onde as meninas em regra, são obrigadas a casar-se aos 13 ou 14 anos, Malala ia à escola. A escola era do pai dela.
Esta ativista recebeu o prémio Nobel da Paz do ano de 2014 e defende a importância da educação escolar para as meninas e para todos os seres humanos. Como ela diz, um lápis e uma folha de papel bem podem fazer toda a diferença.
Agora temos a sueca de 16 anos, Greta Thunberg, que costumamos ver acusadora e zangada, por causa da chamada emergência climática, mas que se recusa a ir à escola e incita os jovens ao mesmo, em nome da tal crise, que sem dúvida, todos sentem, mas poucos devem saber que medidas tomar.
Greta nasceu na Europa, num país dos mais avançados do mundo, onde o acesso à educação é há séculos um direito universal para as crianças. Fala por isso, de barriga cheia, como se costuma dizer.
Temos muito mais a agradecer às jovens que querem aprender, do que às jovens que só sabem apontar o dedo com ar ameaçador.
Foi um triste espetáculo a SIC ter denominado as cerimónias comemorativas do primeiro de dezembro, como a data da implantação da República, que se verificou em 1910 no dia 5 de outubro. Já não é a primeira vez que surgem estas calinadas e bem podiam as redações das televisões ser um pouco mais cuidadosas na forma como etiquetam as notícias.
Porém, estou convicta que se perguntarmos aos portugueses o que simboliza o primeiro dia de dezembro, a maioria não o saberá. Poucos serão os que lembrarão a Restauração, o ano de 1640, a Praça dos Restauradores, os conjurados, os 60 anos do domínio filipino e a Casa de Bragança.
Talvez a culpa não seja deles, pois as datas também vão perdendo a sua importância e significado histórico e num tempo de União Europeia muitos poderão perguntar-se hoje, porque não somos também Espanha.