Está a ser muito discutida entre nós, a possibilidade de ausência de retenções dos alunos, até ao nono ano de escolaridade, ou seja, durante o ensino básico.
Se nos primeiros anos de escolaridade se pode facilmente aceitar esta regra, porquanto os tempos de aprendizagem são diferentes para cada criança, à medida que os graus de ensino avançam, porém, mais difícil se torna a recuperação do aluno com dificuldades, devido à progressiva complexidade das matérias.
Desta maneira, isto não pode significar que «até ao nono ano passam todos». É que os facilitismos não facilitam a vida de ninguém.
O que devia haver era um maior acompanhamento do tal aluno em dificuldades, pela escola e no momento certo, antes de ele «chumbar» ou ficar retido no mesmo ano.
E será isto possível na maioria das nossas escolas básicas? Há professores, salas disponíveis, ou melhor, vontade, para acompanhar estes alunos mais atrasados?
Ou será que esta é mais uma medida que começa pelo fim, tal como aconteceu com os passes mais baratos, que provocaram um grande aumento de passageiros dos transportes públicos, mas que pioraram em muito, a prestação do serviço, devido à sua sobrecarga?
Ora, antes de procurar fazer apenas «um bonito para a foto», convém primeiro sabermos para que lado corre o rio.
Gosto do Convento dos Cardaes, antigo convento na Rua do Século, cujo edifício resistiu ao terramoto de 1755 e à perseguição das ordens religiosas e que continua hoje a cumprir uma vocação, o apoio a jovens e mulheres deficientes, que aí têm o seu lar.
Logo na entrada, o convento exibe, preservada e em muito boas condições, a famosa roda dos «expostos». Ou seja, passo a explicar, uma janela em madeira com uma plataforma que rodava e permitia a quem viesse da rua aí colocar uma criança indesejada ou órfã, rodar o mecanismo que implicava o tocar de um sino, para que alguém do convento a recolhesse depois.
E assim se salvaram inúmeros inocentes. Algumas das Misericórdias do país tinham também sistemas semelhantes e a Santa Casa de Lisboa, possui ainda um arquivo de sinais das crianças expostas, o que não deixa de nos comover, porque de uma maneira geral, a intenção de quem a entregava era poder vir a buscá-la mais tarde.
Vem isto a propósito do menino que foi enfiado nu, esta semana, num caixote do lixo em Lisboa, e que, só por acaso, foi resgatado por um sem abrigo. O menino está agora a salvo num hospital e será com certeza encaminhado para adoção e terá um futuro e uma família à sua espera, que bem merece.
Pode uma mãe, ou um pai não querer ou não poder criar o seu filho, mas pelo menos lembremos a roda dos enjeitados. Ás vezes, parece, que andamos para trás, pois mais valia esta roda centenária do que o caixote do lixo dos dias de hoje.