O Uruguai, um pequeno país da América do Sul, com cerca de 3,5 milhões de habitantes, entalado entre a Argentina e o Brasil costuma ser descrito pelos europeus como uma agradável surpresa, talvez pelas suas evidentes influências europeias. E assim foi para mim. A capital, Montevideo onde vive mais de metade da sua população, dispõe de uma linha costeira magnífica, que ladeia o «Mar del Plata», quase uma «rambla» de cerca de 30 quilómetros, por onde passeiam democraticamente, nos seus tempos livres, grande parte dos seus habitantes.
O resto do país tem agricultura, sobretudo pastagens para gado bovino, fornecedor de boa carne e também vinha, que igualmente produz bom vinho.
Mas no Uruguai fica ainda Punta del Este, praia de água fria, mas com muita procura naquelas paragens.
Em Punta del Este existe a Casapueblo, casa construída pelo artista Carlos Paez Vilaró. Onde este viveu com a família e se reunia com os seus amigos, para assistir ao pôr do sol, cerimónia que os visitantes costumam também presenciar. Ver o sol a mergulhar nas águas, pode parecer uma trivialidade, mas para muitos, oriundos de países sem costa virada a Oeste, é um momento único.
Não se pode falar do Uruguai, sem falar da sua bebida nacional, o chá mate, hábito que novos e velhos partilham, transportando consigo, o termo de água quente e o pucarinho com as ervas da planta e ainda do tango, pois que, segundo dizem, o tango nasceu no Mar del Plata.
Ontem desequilibrei-me e caí ao descer nas escadas rolantes do Metro. Pois é, carregar sacos de compras, abrir e fechar a carteira para tirar o passe e descer as escadas da Baixa Chiado, tudo ao mesmo tempo, talvez já não seja para a minha idade.
Não tive grandes danos, a não ser o dano nas calças, que ficaram rotas e arejadas como manda a moda.
Mas o que me aconteceu e podia ser bem grave, foi ter ficado presa pelos fundilhos das calças na engrenagem do tapete rolante das escadas, sem me conseguir levantar e com pessoas atrás em risco de caírem também. Até que apareceu um salvador, que vinha a subir e correu ao ver a situação e lá me ajudou a libertar a tempo, auxiliando os outros passageiros a passar no entretanto, e apanhando ainda os sacos espalhados.
Mas fiquei a pensar, então estas escadas não deveriam ter uns sensores que as façam parar quando alguma coisa fica entalada?
Vem aí mais um Natal. Os enfeites e as luzes da época, aparecem cada vez mais cedo, mas por outro lado a representação do nascimento do menino Jesus é cada vez menos frequente.
Ora aqui está segundo a tradição, começada em Itália por S. Francisco de Assis, o pai, a mãe e o menino, rodeados do burro, da vaca e das ovelhas, o presépio na sua rústica simplicidade.
No princípio de novembro antecipando o frio, comprei uma bonita camisola, macia, fofa e quentinha. Ao fim de a usar um par de vezes, começou a encaracolar e a formar borboto em montões.
Parecia mais velha do que muitas das minhas idosas malhas, casacos e casaquinhos, que têm passado de estação para estação.
No fim do mês de novembro, voltei à loja, Massimo Dutti, convém sublinhar, sem talão, pois que este já tinha desaparecido, só numa de me queixar. «Ora vejam, lá o que me aconteceu...»
Para minha surpresa e agradável, a loja reconheceu o artigo e aceitou trocá-lo. Não por outra malha, credo, decidi eu.
Dizem vocês, que é assim que deve ser. Lá isso é, mas nem sempre acontece.
Andei por outras paragens no hemisfério sul. Argentina, terra do Papa Francisco, terra do tango, que não é exclusivo da Argentina, mas sim, como explicaram do Mar da Prata, o que inclui também o Uruguai, e Buenos Aires, cidade imensa, traçada a régua e esquadro, com maravilhosa arquitetura europeia do século 19, e com a sua conhecida praça de Maio, onde durante os tristes anos de ditadura se reuniam e manifestavam as mães de Maio, e onde aparecem agora outros descontentes.
Depois desci até à Patagónia e às chamadas terras do fogo e do fim do mundo. Terra do fogo, porque os primeiros marinheiros que a circundaram, e aqui vem à lembrança a viagem de Fernão de Magalhães, viram durante a noite os fogos ou fogueiras dos povos que a habitavam, os índios da Patagónia e assim a denominaram. E terra do fim do mundo, porque está mesmo no fim, como a cidade e o arquipélago de Ushuai, outrora conhecida pela sua prisão de alta segurança, que funcionou até meados do século 20 e de onde partem atualmente expedições para a Antártida.
Muitos turistas, gente de todo o lado e durante quase todo o ano, se bem que abundem sobretudo na primavera e no verão do sul, em busca da montanha, da neve, do ski, do trekking e de outras descobertas.
Natureza virgem, glaciares, pinguins, leões marinhos, neves eternas, vento muito, sempre do Oeste, vindo do Chile, atravessando a cordilheira dos Andes e frio quase todo o ano. Mas uma beleza, que aqui recordo.