Foram anos de namoro, ambos estudantes ainda. Momentos de felicidade, documentados em muitas fotografias, viagens e memórias.
Ilusão.
Acabado o curso, e começada a vida de trabalho, a namorada decidiu romper o namoro. Não era aquilo que queria para o seu futuro.
Desilusão.
Foi um grande choque para o namorado, que disse não poder continuar a viver sem a sua amada, negro seria o seu futuro, desejando, por isso, acima de tudo, desaparecer.
Passado menos de um mês, alguém perguntou à jovem, como estava o rapaz sofredor, ao que ela respondeu, «acho que o pior já passou, pois foi ao facebook e apagou todas as minhas fotos e as dos nossos momentos especiais, vividos em conjunto.»
«Sem dúvida», disseram então os mais experientes, «esse apagamento do passado facebookiano, só demonstra que a recuperação do seu desgosto amoroso, progride no bom caminho».
Não é fácil acreditar na justiça portuguesa, que não se dá ao respeito.
Anda a SIC a entreter os espectadores com as gravações de uma investigação de suspeitas de subornos e outros crimes feios e maus, denunciadores de ligações escuras entre a alta política e a alta finança.
Triste e ainda mais triste, se pensarmos que têm sido sempre os mesmos, os cidadãos, a pagar estes e muitos outros desmandos da banca e da política.
Mas em vez de passarem gravações na televisão ou darem informações para os jornais, levem o caso a julgamento, que o assunto já enjoa. Isso sim, seria fundamental. Chamam a isto fugas de informação e afirmam abrir averiguações. Quem pretendem iludir?
Ela andava à procura de trabalho há meses e foi-se inscrever em «agências de emprego», ou lá o que fosse, que logo à cabeça lhe pediram um montante por conta da inscrição.
Perguntei, quando me contou, e então deu algum resultado? «Não, nunca me chamaram e fiquei sem o dinheiro. Emprego, arranjaram eles comigo e com outros, com esse engodo.»
Também há exemplos de quem peça dinheiro, só para mostrar casas para arrendar, sem certeza, nem garantia de nada.
Pois é. A ignorância é atrevida, não serve de atenuante e pior, ainda pode ficar cara.
Por cá, Abril continua chuvoso, ventoso e frio, ainda com queda de neve nas terra altas.
Quem quiser vislumbrar a primavera deve procurar outros lugares. Por exemplo, Copenhague, num dos últimos fins de semana, com as flores a rebentar, e o sol a aparecer.
A minha professora, da primeira classe da escola primária pública, de quem guardo boas memórias, disse no primeiro dia de aulas, que não queria meninas descalças na sua aula. Dizia então a Dona Dalila, «mesmo que os vossos pais não possam comprar sapatos, por serem caros, podem comprar umas alpergatas de sola de borracha, descalças é que nem pensar.» Estas alpergatas eram feitas em tecido, com restos de borracha de pneus ou com solas de corda.
Era uma Lisboa remediada ou pobre, no princípio dos anos 60 do século passado. E eram assim as regras de Salazar.
Mas eu na altura, não conhecia ninguém que andasse descalço. E fiquei a pensar se as minhas sandálias de verão, preencheriam os critérios de andar calçada. Também pensei no meu pai, que em garoto, queria era jogar à bola sem sapatos, como via a miudagem fazer, e a quem o meu avô prometia sovar se o apanhasse a andar descalço na aldeia.
Pois hoje, há umas alpergatas giras e confortáveis à disposição de quem as aprecie.