Pela mão da minha mãe, desci muitas vezes de elétrico de Campolide até ao Rato, para visitar umas primas moradoras na Rua do Salitre.
Magras reformas, escassos rendimentos, entre os quais o típico aluguer de quartos, e as senhoras lá iam sobrevivendo numa grande casa, muito antiga, com a casa de banho instalada na varanda das traseiras.
O prédio, que com certeza conhecera melhores dias, era na altura quase uma ruína.
Passei lá um destes dias, imóvel imponente todo recuperado e modernizado, portas de madeira enceradas lindas, belas campainhas douradas.
Na mesma época, a minha mãe também protegia uma senhora ou menina, que vendia roupa de porta em porta, roupa interior, lenços de assoar...(Saberão os mais novos, o que é um lenço de assoar? Abrirão as portas hoje, aos vendedores ambulantes, os moradores dos bairros de Lisboa?)
Pois esta vendedora, vivia só, num quarto alugado numas casas a desfazerem-se na Rua de S. Mamede, queixando-se então da chuva que lhe caía na cama e do frio e humidade do aposento.
Aqui aconteceu o mesmo, as casas foram recuperadas e lá estão formosas, com garagens, elevadores, portas de segurança e outras comodidades.
Quem viverá agora nestes dispendiosos palácios? Será que lá vive alguém, ou terão sido comprados por fundos ou especuladores, à espreita para fazer negócio?
Andam para aí umas vozes muito incomodadas a queixarem-se dos turistas a mais na cidade de Lisboa. Na verdade, na Baixa, no centro histórico, e nos grandes monumentos vemos muita gente, sobretudo nestes últimos, com filas para entrada.
Mas há muito mais para ver em Lisboa, no Porto e nos seus arredores e pelo país fora.
Porque não a divulgação de percursos alternativos?
Em vez do acanhado Aeroporto da Portela, porque não deitar as mãos, ou melhor dizendo as asas, ao novo aeroporto de Beja, semi-abandonado, suponho, e disponibilizá-lo para certos tipos de voos? O Alentejo só por si, tem muito que ver, e com transportes regulares, a incentivar, e as boas estradas existentes, chega-se a qualquer lado.
Podem as redes sociais fazer um esforço para ajudar a criar e divulgar destinos turísticos menos conhecidos, menos procurados e menos saturados.
Sei lá, mas neste pequeno país, há sempre tanto para ver por todo o lado.
De há uns meses para cá, comecei a reparar que em cima da mesa estavam sempre bolachas, bolos secos, sumos ou leite em pacote e foi-me dito, por uma das coordenadoras, que cada um se podia servir.
Achei a ideia muito boa. Eu costumava levar fruta, ou algum salgado, que por vezes e se sobejasse, dividia com o voluntário do turno seguinte, mas nada de mais.
Pensei ser alguma forma de compensação da própria entidade, que também tem uma vertente de restauração, em relação aos seus voluntários, alguns estudantes ou trabalhadores noutros locais, que ali passam longas horas nos períodos diurno e noturno.
Nos últimos tempos, os mimos pareciam ter ainda aumentado, até chocolate havia, para mim gulosona, uma tentação. Então a dúvida original, instalou-se com força. Afinal quem os oferecia?
E qual não foi o meu espanto, quando soube que a diversidade e quantidade das ofertas eram asseguradas à sua custa, por uma das voluntárias da linha, que o fazia com empenho e carinho por todos.
Verdadeiro dom da partilha, que os beneficiários, nos quais me incluo, muito devem agradecer.
Casas bonitas, com janelas e vistas lindas, com ou sem cortinas.
Cada um sabe de si.
Mas eu gosto de cortinas. E acabei de mudar as do quarto. Ou seja, substituí, umas tradicionais, feitas à medida, forradas, mas puídas e gastas pelo sol e os anos, por umas leves, compradas numa grande superfície, feitas na China e prontas a pendurar. Tudo do mais simples e básico.
E quando a magia se vai, e as férias se foram e a viagem acaba nas longas e confusas filas de táxi do aeroporto de Lisboa, então percebemos que descemos à terra.
Sabemos que o aeroporto está a rebentar pelas costuras, que os turistas e viajantes são cada vez mais, e que não é de um dia para o outro que se consegue melhorar esta situação.
Mas as horas de espera por um táxi, por vezes superiores ao tempo de viagem, bem podiam ser facilmente encurtadas, para perto de metade, se em vez de uma única fila de carros houvesse duas paralelas, e os passageiros esperassem numa zona central, até chegar a sua vez numa faixa ou noutra.
Ora, penso ser fácil conseguir que os táxis se aproximem, se não em três faixas paralelas, pelo menos em duas. Devendo os passageiros aguardar num corredor central de forma a agilizar os procedimentos de entrada na viatura e não como agora, atravessar com as malas pela frente ou por trás do carro de forma desordenada.