Já aqui referi ser voluntária numa linha de apoio emocional, chamada «Conversa amiga». ca Um destes dias uma nossa apelante algarvia, Maria, viúva e doente, de 75 anos, brindou-nos ao telefone com esta mensagem, que alguém transcreveu e venho agora partilhar:
«Misture bem, em cada dia, uma porção de amor, uma porção de paciência e uma porção de trabalho.
Adicione uma parte de esperança, lealdade, meditação e boa vontade.
Tempere tudo com pitadas de espiritualidade, diversão e brincadeira e um copo cheio de bom humor.
Despeje tudo numa tigela de amor.
Cozinhe bem com muita alegria e enfeite com um sorriso.
Depois sirva tranquila, despegada e carinhosamente.
Assim está destinado a ter um bom ano.»
Ora, usando as sábias palavras da Maria, vos desejo também um bom ano.
Nós os portugueses somos algo complicados, é uma verdade.
Gostamos de ter em simultâneo, um solito na eira, para secar os cereais, e uma chuvinha no nabal para dar vida às hortaliças.
Ora, isto não é possível.
Tanto nos queixámos do abandono e decadência dos centros históricos de Lisboa e do Porto, e agora que as casas estão finalmente a ser recuperadas, a ser ocupadas, dizem que há turistas a mais e que a vida dos bairros foi descaracterizada.
Terá havido casos de idosos a serem afastados, das suas habitações, talvez, mas lembremo-nos que a maioria destas casas não tinha boas condições de habitabilidade, nem recebia obras de manutenção. Os centros estavam desertos, as pessoas tinham medo de andar a desoras em certos bairros.
O turismo destes últimos anos, foi um dos setores que mais cresceu, criando riqueza e novos postos de trabalho.
Agora há vida nos bairros antigos, com gente de fora ou gente de cá, mas gente.
Vivemos numa época de imagem. Imagem que se quer bela. Quanto mais maquilhada ou embelezada, melhor, sabe-se lá como, não interessa.
É assim. Mas num país em que mais de metade da população tem excesso de peso, onde os hábitos de prática desportiva são baixos, alguma vez pensamos em proteger as nossas crianças, os nossos adolescentes, os tais que podem não ter o corpo ideal, que sofrem, por não serem aceites, por não terem as medidas certas, o cabelo brilhante e perfeito do anuncio?
Pois era muito bom que se debatesse abertamente a tirania da beleza. Que se mostrasse aos jovens, que antes de procurarmos ser belos, deveríamos procurar ser saudáveis de corpo e de mente. Que a indústria da moda é sobretudo uma ficção, que procura vender um ideal de perfeição, inatingível. Que todas as fotos, vídeos e filmes são retocados, melhorados, sendo apagadas as gorduras, sombreados alguns músculos, num esforço de alisa aqui e aumenta acolá.
Há que lutar pelo reforço da auto estima, isso sim.
Fala-se agora, entre nós, da imposição ou não, dos trabalhos de casa, para os mais novos. TPC, como são chamados. A maior parte dos alunos do ensino básico levam TPC para fazerem depois das aulas.
Estes trabalhos ajudam à memorização e compreensão das matérias dadas, é inegável.
Mas, coloquemo-nos entretanto, na pele dos pequenos estudantes, no seu dia a dia. Saltam da cama por volta das 7 horas da manhã, ou ainda antes, são deixados pelos pais, nas suas escolas, onde as aulas começam entre as 8 e as 9 horas e são recolhidos depois por volta das 18 ou 19 horas, ou ainda mais tarde.
Ficamos então a pensar, se após uma tão grande jornada, de mais de 12 horas fora de casa, ao regressarem, ainda têm de levar, eles e as famílias, com os referidos TPC.
Poucas são as crianças que têm o conforto de saírem mais cedo, «apanhados» por algum progenitor, desempregado ou com maior liberdade de horários, ou pelos avós, ou distribuídos nas suas casas, onde terá de estar alguém para os receber, pelas carrinhas escolares.
Que se aproveitem as muitíssimas horas passadas na escola e nas ocupações de tempos livres, para fazer os tais TPC.
Mas deixemos que o pouco tempo disponível para a vida em família, seja agradável e não mais uma imposição.
Toda a gente terá ouvido anedotas de automobilistas aflitas para mudar o pneu furado, a quem por fim, aparecia, qual príncipe encantado, um simpático camionista que resolvia o assunto em duas penadas.
Pois agora, o camionista já não é preciso para nada, porque não há pneus para mudar.
Em nome da redução de gastos, de espaços e de pesos, muitos carros deixaram de vir equipados com o pneu sobresselente, que foi substituído por umas engenhocas, com um produto tapa furos, que ninguém sabe muito bem, se veda ou não. Estes produtos têm uma eficácia limitada, dependendo dos danos no pneu, podem atuar no caso de um furo, mas não com um rasgão, ou uma jante amachucada.
Mas preparem-se, porque na maioria das vezes terá de ser comprado um pneu novo, o que sai então muito mais caro.
Assim, em lugar do camionista pode ser que apareça, também como príncipe encantado, um portador de telemóvel com alguma aplicação com os reboques mais próximos e mais económicos. Isso sim é uma grande ajuda.