Ao pé de mim vive uma jovem família de imigrantes. Fixaram-se no nosso país há mais de uma década, primeiro o homem, para trabalhar na construção, depois a mulher nas limpezas, tendo mais tarde nascido uma menina.
Vieram do leste, procurando melhores condições que encontraram por cá.
Ao princípio, tudo foram dificuldades, a língua tão diferente, até o alfabeto que é outro o cirílico e perceber as pessoas sempre prontas a enganar os ingénuos. Mas foram ficando e adaptando-se a novas formas de viver.
Depois de a menina ter nascido, quis a mãe ir mostrá-la à avó e restante família, que por lá ficou. Muito natural para quem não tem cá qualquer apoio familiar.
Difícil mesmo era a viagem, o avião não, por ser caro e haver grande apreensão com as diferentes línguas estrangeiras e as mudanças de aeroportos.
E assim, meteram-se mãe e filha ainda de colo, numa camioneta, que durante quatro noites e quatro dias, as levaria ao seu destino, Sofia na Bulgária.
Não houve incidentes de maior, a menina teve de ir ao colo da mãe, pois o autocarro foi sempre enchendo por essa Europa fora. No autocarro, nada de instalações sanitárias, nem sei mesmo se havia cinto de segurança. Mudar uma fralda, dar um biberão ou um parecetemol para a febre, eram um tormento. As paragens eram poucas e sempre muito curtas.
Dia e noite lá seguiram. Quando finalmente chegaram, a mãe tinha os pés inchados que nem bolas de futebol. Mas tinham conseguido e tinham tido muita sorte.
Não fugiam da guerra e tinham parentes e um lar à espera.
Após a morte da mãe, e como filha única, solteira e sem filhos, coube-lhe a tarefa horrorosa de desfazer a velha casa de família em Rio Maior, onde tinha vivido grande parte da sua vida, e entregá-la para venda. Digo horrorosa, pois só quem passa por esta tarefa, sabe do que estou a falar.
Muitos caixotes arrumados e variados móveis esvaziados depois, deu consigo a falar com o único sobrinho, órfão também, e a dizer-lhe:
«Como sabes, apareceu uma familia interessada em comprar a casa da avó, e como agora és a única pessoa de familia que me resta, ficas com estes documentos, respeitantes ao meu apartamento da Nazaré, porque com a minha idade, que ronda os setenta, mais ano, menos ano, poderás ter de me colocar num lar e nessa altura vendes o apartamento para obter o dinheiro necessário. Quanto à mobilia de quarto de estilo Dom José, possa guardá-la para ti, pois...»
Foi nessa altura que um suspiro do sobrinho a deteve, «mobília de quarto, tu não gostas pois não?»
«Não tia...», novo suspiro.
«Olha, tens toda a razão, guardar para quê, vou mas é deixar o quarto como está, onde sempre esteve e os novos donos, que façam o que entenderem.»
E assim foi. Há coisas, que se bem pode perguntar, guardar para quê?
Incentivados por ofertas de mãos amigas com dedo para a coisa, reganhámos o velho hábito de saborear marmelada ao pequeno almoço, às vezes com queijo fresco, outras vezes com pãozinho e por aí fora.
Num destes dias e passe a publicidade gratuita, comprei o espécime da foto, valorizado «com noz», fruto muito apreciado cá em casa.
Qual não é o meu espanto, quando leio na embalagem, que tento reproduzir na foto, em letras muito pequenas, «presença eventual e não intencional de frutos de casca rija.»
Eventual a gente entende, é um aviso para não estarmos à espera da abundância, agora «não intencional» numa compota de noz, fruto de casca rija, é coisa que não compreendo.
Fica a pergunta, afinal para que serve a rotulagem, para informar ou desinformar o consumidor?
Muitos escritores portugueses gostariam de poder ser considerados ao mesmo nível de Ken Follet, autor inglês, conhecido pelos seus «best sellers» de leitura fácil e interessante, com obras adaptadas ao cinema e à televisão.
Follet é tido como um especialista nas mudanças europeias do século 20, nos acontecimentos das suas guerras mundiais e também no dia a dia da idade média, destacando neste caso, o esforço de construção das catedrais.
José Rodrigues dos Santos, autor de vários romances, muito vendidos no país, bem tenta nas suas «Flores de Lótus», fazer uma abordagem simplista embora, o que até pode ser uma mais valia, da situação portuguesa, russa, chinesa e japonesa, também ao longo do século 20, mas falha na descrição dos detalhes, o que torna a obra inverosímil ou ridícula.
Ora vejamos, na página 25, «naquele lugarejo perdido do interior norte de Moçambique, ...um candeeiro a petróleo pousado na mesinha ao lado do sofá.» Sofás, naquele lugarejo e no ano de 1902? Antes uma cadeira ou um banco de lareira, mas enfim, que passe.
Um pouco mais adiante, página 30, no mesmo lugarejo, «extensos campos de tomateiros cultivados até se perderem no horizonte.» Que tomateiros, são estes? Estes tomateiros, que aparecem várias vezes nesta obra, serão iguais aos europeus, plantas que precisam de suporte? Cultivados por quem e para quê, para vender e distribuir como, sem estradas, sem cadeias de frio, transformação ou venda?
E os portugueses descritos no Japão, como «pálidos como as neves do monte Fuji», página 266, não parecem ter nada a ver com os desenhos dos biombos «nambam» que nos chegaram, onde os portugueses são retratados bem morenos, com cabelos e roupas escuras e grandes narizes?
E os olhos azuis da menina chinesa, página 282, não por serem azuis, que talvez os haja entre os chineses, mas antes por terem sido identificados pelo pai na recém nascida, quando a cor dos olhos dos recém nascidos, é em regra leitosa e indefinida, vindo a definir-se mais tarde.
Em 1920 em Lisboa, seria possível «dar entrada para um apartamento com quatro assoalhadas no Campo Santana», página 285,? Já haveria crédito à habitação e propriedade horizontal?
São estes e outros pormenores que desvirtuam uma obra.
Cabe ao Estado, tal como o concebemos hoje, proteger os mais fracos. Ora entre estes encontram-se em primeira linha, as crianças. As crianças sem família, abusadas, maltratadas ou negligenciadas. Nisto estamos todos de acordo.
Acho que também estamos de acordo ao reconhecer que os irmãos não devem ser separados e que mais vale uma família de acolhimento do que uma instituição. E que há muitas famílias em listas de espera para poderem adoptar.
Por isso, o que não se entende é porque o acolhimento familiar é tão baixo em Portugal, (cerca de 4% contra por exemplo, 90, 5% na Irlanda), tendo vindo a baixar nos últimos anos.
Refere o Diário de Notícias que «por cada menor o Estado entrega 330 euros mensais à família de acolhimento», ...sendo que as instituições, que todos percebem que ficam muito mais caras, «recebem no mínimo 700 euros.»
E então porque não privilegiar os laços familiares, no caso de existirem e tentar encontrar dentro da família biológica alguém com condições para acolher aquela criança? Por cerca de 300 euros, penso que poderia aparecer alguém capaz.
Se não conseguem pensar no bem estar da criança, ou no superior interesse do menor, como dizem os juristas, ao menos que se pense nas contas públicas.
Trata-se de uma pastelaria francesa «l,éclair», aberta recentemente na Avenida Duque de Ávila, nº 44, em Lisboa, bem pertinho da conhecida «Versailles», e desde logo frequentada por um número exponencialmente crescente de gulosos, de tal modo que para ter mesa, é, em regra, preciso esperar. Há também esplanada, que nos dias melhores desanuvia um pouco o serviço. E pode sempre encomendar-se e levar para casa.
Tem éclairs doces, todos lindos e acredito, ainda mais gostosos. Os da foto, são de limão e também já provei os de frutos vermelhos. Recomendo ambos, pois não sei qual o melhor. Tenho visto grupos a pedir para partilhar os diferentes sabores, que nesse caso são já apresentados devidamente partidos nos pires. Nada de bodeguices.
Pode-se optar por éclairs salgados e decidir ainda entre vários chás e café, sendo todos servidos com um chocolatinho de oferta.
Os preços não são baratos, mas também dias não são dias, o espaço é bonito, claro e simples e o serviço é muito delicado e atencioso.
E porque não ir ao cinema e ver uma comédia inteligente e bem feita?
É o que se passa com o filme Salve César, realizado pelos irmãos Coen, eles que já ganharam quatro Óscares, o que deve querer dizer alguma coisa e que para mim foi uma boa surpresa.
O filme situa a história num estúdio de Hollywood, na sua época dourada, os anos 50 do século passado, retratando os vários tipos de películas da altura, os filmes de cowboys, os românticos e os históricos. Recria bonitas cenas de natação sincronizada, de dança e de marinheiros, tocando na espionagem e no perigo do comunismo, passando de umas para as outras com humor e imaginação. Lá encontramos, o ator canastrão, a flausina da época, a jornalista de mexericos, o estúdio como entidade suprema, o homem de ação, que resolve todos os problemas e é também o narrador, e por aí fora.
Vão ver que não se arrependem, para melhor explicação segue link.
Ver dia a dia, um fruto a crescer na árvore, esperar que amadureça e depois ir apanhá-lo e saboreá-lo é um prazer cada vez mais raro.
E o perfume de um pomar, na hora do calor, ao entardecer ou de manhã, ainda orvalhado?
Compramos fruta nos supermercados, quase sempre colhida ainda verde, lavada, e até encerada, alguma, acondicionada no frio, dias ou meses, mas quando chega às nossas bocas, perdeu o seu sabor.
Procuro escolher sobretudo fruta da época, sempre mais barata, nacional, ou com origem demarcada, por exemplo, e atenção que não sou paga para isto, maçãs de Alcobaça, peras do Oeste, laranjas do Algarve. No tempo das cerejas, venham elas e no tempo dos pêssegos sumarentos há que aproveitar, fazer compotas ou até conservas, para quem saiba.
Temos porém a sorte de poder dispor de fruta portuguesa, vinda das nossas ilhas quase tropicais, a Madeira, e as suas bananas, pequeninas mas muito saborosas e os ananases dos Açores, também pequenos e igualmente saborosos.