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Ninguém é feliz sozinho

Ninguém é feliz sozinho

Sol mexicano

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Sol mexicano se chama o painel de azulejos de Querubim Lapa que adorna, há mais de 70 anos, ao lado de uma bonita passareira com periquitos, o fundo da sala da Pastelaria Mexicana.

É uma casa com história em Lisboa, que foi renovada e reaberta há poucos meses e o painel lá continua felizmente, apesar de em tempos, ter chegado a haver algumas ideias para o retirar. 

Voltei lá. E mais do que o arranjo e o ar lavado, e os bolos e as doces e salgadas tentações, fui surpreendida pelo gesto atencioso com que uma empregada de mesa, ao ver uma sobremesa quase intacta, se dirigiu à cliente sozinha, e lha retirou para pedir à cozinha que melhor caramelizasse o leite creme.  

A senhora, talvez cliente de muitos e com muitos anos, sorria contente ao saborear finalmente o doce, como era do seu agrado. 

São estas pequenas coisas que fazem uma casa.

 

Os mais idosos e as suas histórias

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Naquele dia, no banco, os quatro irmãos ficaram estarrecidos, como era possível, que as poupanças do pai tivessem desaparecido em pouco mais de um ano?

Levantamentos sucessivos e repetidos de dinheiro, primeiro mensais, depois quinzenais e por fim, quase todas as semanas. E agora a reforma, apesar de muito confortável, não ia chegar para os variados encargos.

Falaram com o pai, muito esquecido, muito confuso, lá foi dizendo, que sim, tinha ido ao banco, sempre com a Clarissa, tão carinhosa, que o tratava tão bem, para levantar uns euros, para as despesas, pois então, o dinheiro era dele, e fazia o que bem queria com ele.  

Falaram com a Clarissa, sim tinha ido ao Banco com o Senhor Engenheiro, ela nem queria, mas ele insistia, ao ver as necessidades dela, para mandar um dinheirito para os filhos lá no interior do Brasil e para a mãe, que precisava de ser operada. Era apenas um empréstimo, dizia entre lágrimas, ela ia pagar tudo logo que pudesse, que toda a vida tinha sido séria e vivido apenas do seu trabalho.

A custo, lá conseguiram despedir a Clarissa, fechar a casa, tendo o pai ido viver com uma das filhas.

Esta chegou a confidenciar-me, «fiquei espantada no outro dia, quando vi a tal Clarissa, toda sorridente, em Campo de Ourique, o bairro onde o meu pai vivia, de braço dado com outro idoso, fiquei com a certeza que a história vai recomeçar outra vez.» 

Sou a favor da eutanásia, mas mesmo que não fosse

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Sim, em certas circunstâncias, sou a favor da eutanásia, (administração de substância letal por outrem) ou da morte assistida, (administração de substância pelo próprio), mas mesmo que não pensasse assim, julgo que a despenalização destas situações confere a cada um de nós a liberdade de poder tomar uma decisão final de forma séria e devidamente aconselhada, respeitando a liberdade individual. 

Ou seja, a despenalização não obriga ninguém, apenas retira a carga do direito penal, que não a carga ética ou religiosa.

O que não é coisa de somenos importância quer para o doente, quer para os familiares ou equipas médicas.

E não nos venham falar dos cuidados paliativos, claro que eles são meritórios e bem necessários, mas deixemos  a cada um a capacidade de decidir. 

 

O que se ganha com o trabalho voluntário

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Muitos se perguntam o que podem ganhar com o trabalho voluntário, mas concluem, ora se é voluntário não se ganha nada.

Para além do evidente, experiência, conhecimento de novas pessoas e outras vantagens, há sempre troca de fluxos, chamemos-lhe assim, para os dois lados.

Sou voluntária numa linha telefónica emocional, como há tantas. A maior parte do tempo é ocupado a falar com pessoas idosas ou não, sós, carentes de tudo e doentes, por vezes com graves doenças mentais.   

Há tempos, apareceu na linha um senhor muito deprimido, na casa dos 50 anos, reformado por invalidez, que se queixava, não ter nada para fazer. A mulher deixara-o, vivia com uma filha estudante de 17 anos, tinha ainda mais filhos e alguns netos, pescava, tratava de uma horta. Então se trata da horta e dá o almoço à sua filha já faz alguma coisa... Mas a tristeza e as lágrimas invadiam-no, naquela sua voz arrastada de quem toma forte medicação.

Porém, ao longo deste último ano, houve vários desenvolvimentos, arranjou uma companheira nova, ela engravidou, ele que afirmava, já não ser homem nem nada. E eis que nos telefona este mês, para anunciar que o seu filho Diogo tinha acabado de nascer, que correra tudo bem e que o menino era agora a alegria de todos, incluindo dos outros filhos e netos. 

Ora digam lá, quais são os trabalhos que nos dão estas alegrias?

No tempo dos descartáveis

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Parece que vivemos no tempo do usar e deitar fora e, infelizmente cada vez mais.

Hoje os antes trabalhadores, assalariados ou contratados, deixaram de se chamar assim e passaram a designar-se colaboradores, simplesmente.

Pois quem colabora hoje, pode ou não colaborar amanhã, tudo depende de vários factores. Precariedade, quanto menos compromissos melhor.

Ouvi recentemente a história de um viúvo, com um casamento de mais de 60 anos, que assumia comovido a falta que sentia da mulher e a sua permanente tristeza ao retornar a casa, por saber que ela não estava lá. 

Um contrato de trabalho ou um contrato de casamento são efemérides e raridades.

Notícias da Grécia, gregos e troianos - colaboração de Suzana Toscano

O nascimento da minha neta luso-grega, aqui em Atenas, correu bem, mas a questão do nome tem sido a mais complicada. Quem diria, podem pensar os incautos, pois se há tantos nomes em comum!, e escusam de desfiar Helena, Cristina, Sofia, Ana, Irene, Elisa, Anastásia e mais um ror deles. Escusam, porque o maior obstáculo é mesmo a terrível «tradição», a qual é devidamente acompanhada pela atuação concertada da família, uma instituição muito poderosa aqui nestas paragens.

Diz então a tradição que o filho terá o nome do avô paterno e a filha o da avó paterna (os avós maternos não entram na tradição nem os apelidos ficam no registo) o que, no caso, levaria a que a minha neta se chamasse ...Antígona! E dito assim, nem parece tão mal, já estou por tudo, mas haviam de ver a complicação da escrita, cheia de ditongos impronunciáveis, de tal modo que, mesmo depois de tanta convivência, ainda não consigo dizer ou escrever o nome duas vezes seguidas da mesma maneira. Definitivamente, não!

Além disso, aqui não autorizam mais do que um apelido ou seja, o do pai. Em regra, os gregos têm apenas um nome próprio e o apelido do pai, lá ficava varrida a origem portuguesa do nome da garota! Estava quase decidido que ficaria então Laura, lindo nome português do agrado dos pais mas, claro, impossível, disse a avó paterna a cortar cerce o desvario. E não podia, porque aqui o nome de Laura é italiano e, como tal não existe no cardápio dos Dias do Nome. Ora, o Dia do Nome é mais celebrado do que o dia do aniversário, por isso a menina ficaria privada desses festejos e muito penalizada junto dos amiguinhos gregos que andarem com ela na escola....

Passaram nove meses de discussão e amuos, mais três dias sobre o nascimento da miúda, finalmente houve fumo branco, fica Zoí Maria, Zoí significa Vida, Maria é a portugalidade assumida, agradou-se a gregos e lusitanos, mas não me perguntem como se escreve, se com «e» se com «i», se com acento ou sem ele, porque já ouvi tantas versões...(suspiro).

Filaki Filaki (beijinhos).

Mais livros, desta vez infantis

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«Pedro à procura do amor» é um livro escrito a duas mãos, (ou a quatro, conforme referido no prefácio), por um avô Diogo, Salvador Leite de Campos, na idade dos sessenta e pelo seu neto também Diogo, José Leite de Campos, com pouco mais de 13 anos.

Trata-se de uma história de aventuras e de sonhos de ajudar os outros a serem bons e felizes, muito bem embelezada com ilustrações de João Rodrigues.

Que melhor ligação entre um avô e o seu neto do que um projeto de procura do amor concebido a dois, que agora nos chega pela Editora «Matéria-prima».

Para que servem as reuniões de condóminos

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As reuniões de condóminos são de fugir e de afugentar os mais incautos.

Uma minha jovem vizinha, recém-chegada de um doutoramento do Canadá, chegou-me a dizer uma vez, enquanto me pedia que a representasse na assembleia, que não conseguia assistir a mais nenhuma reunião, dado o clima tenso e desagradável que tinha havido na única em que tinha participado.  

Tal como sentados ao volante, pessoas polidas e agradáveis no dia a dia, parecem de súbito transformar-se nas reuniões e quando menos se espera, o tom já está elevado e as agressões verbais já começaram.

E depois tudo serve, tornam a contar as histórias, muitas com vários anos, da vez em que o cão fez xixi no patamar, do carro que ficou com a roda torta na garagem, da roupa mal estendida a secar, da lenha espalhada na arrecadação, do elevador com beatas, dos pingos do ar condicionado...são horas e horas a fio, neste despropósito.

Quer o administrador avançar na ordem de trabalhos, aprovar o orçamento e a escolha da nova administração, mas as acusações continuam, nada os faz calar. E a coisa é igualitária, tanto implicam os homens como as mulheres, os novos como os velhos.

O que nos vale é que é só uma vez por ano, espera-se.

 

O que ando a ler

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Gosto muito de ler. Fui incentivada a isso, pela minha mãe que, recompensava o meu bom comportamento com pequenos livrinhos de histórias tradicionais infantis, a bela adormecida, a menina dos fósforos, a gata borralheira e outros.

O meu pai criticava e censurava o meu gosto pela leitura, que considerava excessivo, e chegava a esconder-me os livros para eu não perder tempo a lê-los, porque queria que eu largasse os romances, coisa de menos importância, e estudasse. Chegou a fechar a coleção completa dos livros de aventuras dos «Cinco», dentro de uma mala de viagem.

Não posso faltar à verdade, esquecendo que mais tarde, conformando-se com esse meu «capricho», me incentivou a cursar Direito, onde teria sempre muito que ler e que escrever, conselho que segui.

Lá ia estudando e lendo, pois era-me fácil descobrir os esconderijos, e muitas vezes lia pela noite fora com uma lanterna a pilhas, para não me mandarem apagar a luz.

Fico a pensar qual seria hoje o pai capaz de esconder os livros aos filhos ou filhas, mas enfim, nunca perdi o gosto pela leitura e reconheço que a minha vida não seria a mesma se não tivesse sempre algo para ler.

Vem isto a propósito da pergunta que me fazem amiúde, «o que andas a ler?»

Pois agora, que julgo que acaba de sair o quarto e último volume da obra «A Amiga Genial» da escritora italiana Elena Ferrante, é isso que ando a ler e com muito prazer. 

Quem também partilhar este meu gosto, tem aqui uma obra perfeita, uma análise muito bem contada, que segue o percurso de duas amigas napolitanas, na sua infância, adolescência e idade adulta, com as suas aventuras e desventuras, que é também a história da Itália e das suas contradições.

«Ele tentou matá-la porque ainda a ama», nada de mais errado

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A  simples ideia, ou frase feita, de que «ele tentou matá-la porque ainda a ama», além de errada, erradíssima, é só por si muito perigosa.

Como pode alguém que ama, fazer mal, ofender, injuriar, bater, ou no extremo, tentar matar ou matar mesmo, e não poucas vezes, como as estatísticas infelizmente o comprovam.

É preciso que se combata esta ideia, e que as vítimas tenham consciência que a violência não pode ser aceite e tem de ser sempre recusada.

Quem nos bate e nos maltrata não pode querer-nos bem. 

Como diria Tina Turner, «What´s love got to do with it», o que tem o amor a ver com isto?

 

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