Casas devolutas há por todo o país. Abandonadas, fechadas, sem qualquer utilização, algumas em ruínas outras acabadinhas de fazer, prontinhas, mas teimosamente sem serventia. O exemplo que hoje vos trago é o de um edifício construído em Lisboa, com dinheiros públicos, talvez há cerca de dois anos, para servir como creche na freguesia de São Domingos de Benfica, e que continua fechado, sem se saber ainda quando receberá crianças. E não é por falta de famílias interessadas, pois vivem na freguesia mais de 30 mil pessoas, entre as quais famílias com crianças pequenas à espera de vaga numa creche.
Talvez a Câmara ou a Junta de Freguesia consigam explicar tamanho desinteresse, tamanho esbanjamento. Talvez que as medidas do governo sobre a habitação ou a falta dela, sirvam para que o Estado olhe para o seu património e o utilize melhor.
E que tal se todos fizessemos uma lista de exemplos como este? Não devem faltar.
Claudina Chamiço, (1821-1913), foi nos finais do século 19 e princípios do século 20, uma grande benfeitora portuguesa e lutadora contra um mal terrível na época, a peste branca ou mais simplesmente a tuberculose.
Herdeira de uma grande fortuna por morte de quase toda a sua família vitima da terrível doença, decidiu continuar a obra dos seus sobrinhos Amélia e Frederico Biester e levar a cabo a construção do sanatório de Santa Ana na Parede para meninas pobres, no terreno que aqueles tinham comprado para esse fim. Quem se lembraria nesses tempos de escassez de priorizar as meninas pobres dos 4 aos 14 anos? Em muitos registos da época há descrições de algumas dessas meninas referindo-se aos anos que viveram no sanatório como os mais felizes da suas vidas. E como se entende bem. Graças a uma boa alimentação e bons cuidados médicos, repouso e ares do mar, as taxas de cura eram muito elevadas, mais de 90%.
A primeira pedra é lançada em 1901 e em 1904 o sanatório já estava a receber doentes. Apesar da implantação da República em 1905 e da extinção das ordens religiosas, continuou a ser administrado por uma congregação religiosa de acordo com a vontade da sua fundadora. Por testamento desta, será a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa legatária da obra que ainda hoje funciona como Hospital Ortopédico.
Neste final do ano sabe bem recordar figuras de outras eras que contribuiram para melhorar o mundo à sua volta.
Sou daquelas que nunca acharam que o lugar de uma mulher que faz um aborto é nos tribunais ou na cadeia, como aliás continua a ser em muitos locais do nosso mundo. Lutei contra isso e lutaram muitas da minha geração. Em Portugal a contraceção é permitida e gratuita.
Agora ouvir dizer a uma infeliz, cujo nome não retenho, num programa televisivo e repetido nas redes, que teve de fazer «um aborto porque o meu namorado me disse que não queria aquele filho», parece um grande despropósito. Houve um tempo em que o slogan era «no meu corpo mando eu», mas onde isso já vai.
Já sei que vale tudo, pelos 15 minutos da fama. Mas que fama é esta? A fama da patetice.
Tal como os chapéus há quem diga que amores há muitos. E de diversas formas e feitios. Conheci pais que pagaram a empregadores para «contratarem» os seus filhos, ou pelo menos fingirem, para ver se os jovens atinavam, ganhavam rotinas e aprendiam qualquer coisa, mas também conheço um filho que pagou do seu bolso, para a mãe sair de casa e do seu marasmo.
A senhora ficou viúva muito cedo com um filho único, criança ainda, para criar. Trabalhava muito, num escritório e ainda levava trabalho de contabilidade para completar em casa noite adentro. Insistiu com o filho para que ele estudasse e continuou a fazer sacrifícios para que nada lhes faltasse.
Com o tempo, o filho entretanto criado e formado, chegou a idade da reforma. E com a reforma o marasmo ou depressão. O filho depressa compreendeu a situação. A mãe tinha de continuar a «trabalhar».
Foi então que ele se lembrou de ir ao antigo emprego da mãe e engendrar um sistema de «part-time», em que a mãe tivesse de lá ir diariamente para atualizar um determinado ficheiro. Ele entregaria mensalmente um envelope que depois os recursos humanos fariam chegar à mãe, como se fosse o seu pagamento.
E assim foi e durante vários anos. A senhora saía de casa na Graça metia-se num elétrico e chegava a Belém, onde a esperava o tal ficheiro. À tarde era o inverso, porém só as deslocações e o estar com os antigos colegas num ambiente acolhedor, concediam-lhe horas de felicidade.
Claro que o ficheiro, numa altura já da introdução do computador não seria de grande utilidade, contudo, esta senhora preencheu assim os seus últimos anos, graças ao amor do seu filho.
Quando eu nasci já a rainha de Inglaterra reinava no seu pais e gerava curiosidade à sua volta dada a sua juventude e elegância. Em Fevereiro de 1957 veio com o seu marido em viagem oficial a Lisboa, que deve ter sido muito especial para o jovem casal, pois foi em Lisboa o seu reencontro, após os compromissos profissionais daquele.
Num país cinzento e triste onde nunca acontecia nada, foi uma alegria muito grande a visita da rainha. As minhas três tias, irmãs do meu pai, que viviam praticamente em nossa casa, prepararam-se com afinco para descerem à baixa e correrem ao Terreiro do Paço, ao cais das colunas, onde seria o majestoso desembarque. Ainda tentaram arrastar a minha mãe, que com duas crianças pequenas à sua volta, achou que seria demais. Eu porém, com perto de 4 anos, fiquei no ar, como seria uma rainha a sério?
Quando ao final do dia chegaram as minhas tias estafadas e desanimadas e contaram as suas aventuras ou desventuras, ficou bem claro que elas não tinham conseguido ver a rainha, pois eram só ruas cortadas, gente por todos os lados, militares e polícias aos magotes.
Ainda não havia emissões regulares de televisão, e poucas famílias tinham aparelhos. Restavam as fotos na imprensa escrita, nos jornais e revistas da época.
No momento em que parte a Rainha Elizabeth II gostaria de a evocar pelo seu exemplo de vida, a sua firmeza e sentido de dever.
Andou recentemente de avião pela primeira vez. Naturalmente curioso e de acordo com os seus três anos, seguiu com atenção as explicações de segurança da hospedeira, olhando a par e passo para o folheto informativo. Colete salva vidas, lhe chamou ela, enfiar pela cabeça, apertar à frente, encher para ficar parecido com uma boia de piscina ou praia, achou ele.
Depois o infante arrumou tudo na bolsa do banco da frente e saiu-se com esta, «olha nem sabia que estes aviões podiam parar na água.»
Não fiz qualquer comentário, mas fiquei a pensar, é bom sinal que nenhum de nós o saiba, nem o venha a saber nunca.
Por estes dias, andamos todos aflitos com a seca, a escassez da chuva, o baixo nível das albufeiras a diminuição das nascentes.
Não se consegue viver sem água, é uma evidencia, e ela é cada ano, um bem mais raro. Deve ser poupado e controlado. Poucas regas, diminuição das lavagens e sobretudo nada de desperdícios.
Ora esta boca de incêndio da responsabilidade da Epal, num passeio lisboeta, é bem o exemplo contrário disto. Já não falo do lixo, falo sim da ervas daninhas que apesar deste forte estio, não estiolam, antes vicejam por entre as pedras da calçada.
Esta boca de incêndio,
bem como muitas outras, tem uma fuga de água, várias vezes reportada às autoridades, neste caso a Epal, mas até hoje sempre sem sucesso.
Não deveriam os serviços públicos responsáveis acordarem e preocuparem-se a sério com a escassez da água?
A burocracia ou «burrocracia» é um pecado muito português, capaz de desesperar a mais paciente criatura. Os serviços públicos aproveitaram a pandemia , a onda ou o que quer que seja, para resolverem ou facilitarem muitas coisas on line. Mas algo continua a falhar. Como pode a renovação de um pedido feito há menos de um ano, e não tendo havido qualquer alteração da situação, exigir de novo a entrega dos mesmos documentos ? Assim acontece com a renovação do dístico de estacionamento da viatura para cidadão residente estabelecido pela EMEL.
É um desespero, dei comigo a desejar estar numa repartição a tirar uma senha, esperar a minha vez e ser atendida ao balcão, por alguém que entendesse o significado de renovaçáo por mais um ano de um pedido anterior. Tudo igual, igualzinho, só mais um novo ano.
Aprender de pequenino a língua portuguesa, não é tarefa fácil.
Há muitos verbos irregulares e formas verbais bem tramadas. Claro que em adulto ainda deve ser pior, mas por ora concentremo-nos na aprendizagem infantil.
Dizia o garoto com a segurança dos seus três anos, desolado no meio dos seus carrinhos dispersos, «perdemos a escavadora, perdemoszia...»
Não é «perdemoszia» é perdêmo-la...
Rápido interrompe, «não perdemos não, encontrámozia, está aqui».
Lições de português e não muito bom, que acabam sempre com boas gargalhadas.
Fui educada numa família católica que ia à missa ao domingo, e por isso, frequentei a catequese e fiz a primeira comunhão na minha paróquia da altura em Lisboa, Santo António de Campolide. Eu e outras da minha criação. Era costume confessarmo-nos regularmente em certas épocas do ano. As lembranças que tenho dessas confissões são tristemente sinistras, pois que já menina e moça a única coisa que interessava a alguns párocos era se tínhamos namorado e o que fazíamos com o dito. Eu não tinha namorado nenhum, pelo que num instante, era despachada com três avé marias de penitência, mas no entanto considerava a pergunta uma intromissão. As mais velhas e mais experientes avisavam as miúdas mais novas para não irem a determinado confessionário, havia diversos então, porque o padre se punha a perguntar mais isto e mais aquilo.
Não me move nenhum intuito persecutório contra a igreja, pois reconheço nela muitas virtudes e sãos princípios.
Contudo, não posso deixar de me alegrar por ter sido agora criada uma comissão independente para a apreciação de abusos na igreja católica, que com certeza terá bastante que apurar. Abriu-se finalmente uma porta de desabafo e reconciliação para muitas vítimas.
Contudo, nestes como em muitos outros casos, o problema será sempre a prova dos factos, em muito agravada pela distancia.